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Resenha: A Casa dos Deuses - Os Guardiães - José Leonídio (Autografia)

em terça-feira, 26 de novembro de 2019

(...) aquela guerra também era sua.



A Casa dos Deuses - Os Guardiães, do autor José Leonídio, foi publicado em 2019 pela Editora Autografia.  Esse é o segundo volume de uma pentalogia que contará a história do Rio de Janeiro entre os séculos XVI e XX.  Em uma atmosfera de realismo mágico, o autor equilibra realidade com ficção, trazendo ao leitor uma obra rica e admirável.

A Floresta da Tijuca sempre foi considerada um lugar sagrado para os negros e para os índios Tupinambás.  A ambição dos ingleses acabou acelerando a destruição das matas, a Casa dos Deuses, morada de Iara e Tupã, um lugar mágico sempre cercado por arco-íris e abundantes nascentes de água.  Do encontro dessas duas culturas nasceu uma missão:  preservar a memória dos Tupinambás e jamais deixar morrer o sonho de liberdade, mantendo viva todas as lembranças e mostrando o valor daquele povo e de suas lutas.

Dias difíceis estavam por vir.

Ângelo, ou Onyrê como era conhecido, era um negro livre, criado com todas as regalias pela família Telles.  Ele era filho de Dandara e de Nlá Eye, protagonistas do primeiro livro.  Seu pai era um príncipe da região de Keto na Nigéria, que nunca aceitou sua condição de escravo aqui no Brasil, fugindo logo depois para o quilombo da Floresta da Tijuca, e se casando com Dandara, onde encontrou o amor e uma fiel guerreira nas lutas.  Ângelo carregava nas veias toda história de seus antepassados. 

Agora, já sexagenário, era respeitado por negros, mulatos e mestiços, mas seu prestígio também era grande entre os ciganos,  muitos portugueses e seus filhos.  Porém muitas pessoas também odiavam Onyrê, principalmente os ingleses, que se sentiam diretamente prejudicados com sua luta pela preservação da Floresta da Tijuca.  Os ingleses chegaram por aqui cheios de ganância, derrubaram as matas para fazer grandes plantações de café, imaginando que o solo fértil das florestas lhe daria os melhores grãos.  Árvores centenárias eram derrubadas sem o mínimo controle.  Era total a falta de respeito com toda a história do lugar.

Se o homem a destruiu, caberá ao homem refazê-la.

Sempre que tinha oportunidade, cumprindo a missão deixada por seu pai, Ângelo contava aos nobres e plebeus as histórias de seus antepassados e também as memórias do velho Aimbirê, o último dos Tupinambás.  Assim, a missão de manter viva as lembranças e o valor daquele povo ia passando através das gerações.

Diante de uma extensa pesquisa, o autor José Leonídio construiu um enredo rico e fascinante que reconstrói uma época de nossa história, misturando personagens reais com fictícios.   Podemos destacar a presença de Dom Pedro II e sua esposa Tereza Cristina, suas filhas Isabel e Leopoldina de Bragança, sem deixar de fora sua amante Luiza Marlene, a Condessa de Barral.   Temos ainda a jovem Clara, forçada pelo pai a se casar com um velho senhor muito rico, mas que descobriu o amor nos olhos de um cigano chamado Igor.


Que nossos temores se transformem em certezas.

Outros grandes amores enaltecem a trama de Leonídio.  A escrava Manuela dos Bons Prazeres se rendeu à música do francês Jean Fouchard, e por ele seria capaz de dar a própria vida.  Mas como pessoas de realidade tão diferentes poderiam concretizar o que sentiam?  O Doutor Antônio Peixoto era um respeitado médico que se apaixonou pela maior artista da Companhia Lírica Francesa, que acabou morta pelo marido.  Mas quem disse que a morte separou os dois amantes?  Todos temiam ao vê-lo, supostamente de braços dados e cheio de amor com o espírito de sua amada Madame Mége, a qual só ele via.

O livro constrói vários temas paralelos ao assunto principal, e todos são interessantes e bem distribuídos ao longo da trama.   O Mal de Sião, a peste dos amarelentos, que assolou São Sebastianópolis assustou pobres e ricos.  A Febre Amarela não escolhia raça nem classe social para fazer suas vítimas. Muitos acreditavam que as mortes eram um castigo de São Benedito, o santo pretinho, que teve seu andor impedido pelos ingleses de sair durante a Procissão de Cinzas.

Não se mexe com a fé de um povo cuja única esperança vem de sua crença.

São Sebastianópolis era uma cidade rodeada pela diversidade religiosa.  As crenças se misturavam e era comum ver a fé da Igreja Católica andar junto à crença aos Orixás.  A cura pelas ervas herdada dos antigos Tupinambás, muitas vezes se confundiam com as rezas, amuletos e banhos dos africanos.  O futuro nas cartas dos ciganos iluminavam os caminhos, e a homeopatia e o espiritismo de Kardec estavam chegando por aqui e ganhando muitos adeptos.

Acompanhamos também a composição da melodia do Hino Nacional, onde Francisco Manuel da Silva buscava ressaltar os nossos valores.   Percebemos a língua oficial portuguesa sendo desconstruída e o surgimento de uma linguagem própria e rica misturando novos termos de origem africana, indígena e cigana, fazendo nascer novos termos que nos afastava da língua portuguesa.   Outro assunto relevante era o interesse dos ingleses de inserir suas máquinas no mercado de trabalho, apoiando o fim da mão de obra escrava nas lavouras e fazendas.  Fora isso temos o surgimento dos lampiões à gás e a construção da primeira estrada de ferro.

A fé ajuda a enxergar nossas sombras (...)

Com 574 páginas, narrado em 3ª pessoa, folhas amareladas, letras confortáveis, 29 capítulos e epílogo, A Casa dos Deuses - Os Guardiães contém notas de rodapé, que são muito úteis para explicar alguns termos da cultura africana, portuguesa, cigana e indígena,  que aparecem no enredo.  O livro de José Leonídio é uma ótima indicação para conhecer a história dos povos que formaram o Rio de Janeiro como conhecemos hoje.  Esse volume é focado no século XIX, em torno de 1850.  É o retrato de um tempo em que muitos acreditavam que os negros não tinham alma e que nasceram para servir aos brancos.  Um tempo de atrocidades, mas também onde muitas vozes se levantaram contra a opressão, lutando pela igualdade e pela preservação da Floresta da Tijuca.  É uma leitura interessante e enriquecedora.  Boa leitura!


Quando as árvores são arrancadas ou derrubadas, os homens ficarão amarelos como amarelas ficam as folhas das árvores mortas, e tudo secará, os rios não mais terão as flores nas suas margens, os peixes sumirão.  E a peste dominará.  O calor das entranhas da Grande Mãe Terra, os alcançará e morrerão tantos quanto foram as árvores por eles destruídas.






A Casa dos Deuses:  Os Guardiães #2
https://www.skoob.com.br/a-casa-dos-deuses-2-985249ed986624.htmlAutor:  José Leonídio
Editora Autografia
ISBN: 978-85-518-2160-2
Páginas: 574
Ano de publicação: 2019



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E-book


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https://www.saraiva.com.br/a-casa-dos-deuses-os-guardiaes-10621840/p




Sobre o Autor


José Leonídio, médico e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ. Nascido na Guanabara, no bairro de Cavalcante. Formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil. Seus primeiros passos nas letras foi escrevendo enredos para escolas de sambas e blocos. Em 2001 publicou seu primeiro romance, “A Raposa do Cerrado” Menção Especial, Prêmio Erico Verissimo 2001, União Nacional dos Editores. Em 2018, lança “Portais da Liberdade”, primeiro volume da Pentalogia “ A Casa dos DeusesGuanabara século XVIII.


*Livro recebido através da assessora de imprensa Andrea Drummond.

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