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Resenha: Boca de Chafariz - Rui Mourão (Editora UFMG)

em segunda-feira, 11 de setembro de 2017


Boca de Chafariz, do autor Rui Mourão, foi lançado pela primeira vez em 1991. O enredo ganhou o Troféu Francisco Igreja, da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, como melhor romance de 1992.  Atualmente publicada pela Editora UFMG, o livro já está em sua 5ª edição.  Esse  é o primeiro volume de uma trilogia que passeia pela encantadora cidade mineira de Ouro Preto.   Embora o enredo explore fatos históricos e personagens que ajudaram a construir a cidade e torná-la Patrimônio Cultural da Humanidade, o autor deixa claro que as ações são imaginárias e as ideias surgiram de sua inspiração.

A história é como uma corrente desgovernada que passa sobre as cabeças e, ao sabor das opiniões sempre trabalhadas pelas consciências do momento, vai recalcando certas figuras, fazendo emergir outras.

O ano era 1979 e Ouro Preto enfrentava uma terrível tempestade que  ameaçava varrer do mapa toda a cidade.  Cada construção, barraco, plantações ou animais de criação sofriam com a fúria violenta das águas e vendavais.  Tudo se tornou um caos e a cidade parecia afundar em meio aos desabamentos e atoleiros.  Diante de toda destruição e um enorme número de desabrigados, Ouro Preto precisava resgatar sua identidade, recuperando suas memórias e seus valores.  Para isso seria preciso mergulhar em seu passado, redescobrindo sua história e reerguendo-se sob o olhar atento de todo o mundo.

Num instante de fraqueza, podemos ser vítimas do medo e temer pelo nosso futuro.  Mas temos que lutar e confiar.  Isso é que é indispensável.

Rui Mourão escreve com intensidade cada palavra e tem um total domínio sobre o enredo.  O autor desenvolve com sagacidade um texto dinâmico, divertido e inteligente.   Passando por várias fases desde sua criação, quando ainda se chamava Vila Rica, a cidade de Ouro Preto se torna a grande personagem de Boca de Chafariz.  Misturando personagens do passado e presente, ela busca firmar-se através dos acontecimentos que, ao longo do tempo, criou sua identidade única e cheia de encantos.  O valor histórico e o orgulho de seus moradores estão estampados em cada um dos capítulos que formam o retrato da cidade.

Viver é estar ao desabrigo, é avançar contra a corrente e aspirar por uma certeza quando sequer sabemos para que lado caminhamos.

Figuras históricas, entre elas Tiradentes e Aleijadinho, detalham momentos de suas vidas, em uma narrativa intensa e emocionante carregada de sentimentos.  Muitos desses nomes que estampam os livros escolares observam dos telhados e janelas o movimento pela cidade em suas ruas e praças, como se suas almas atemporais pairassem ainda sobre o lugar.  Tais relatos, realizados em primeira pessoa, dão um tom eloquente aos fatos, nos aproximando da história.

A memória de uma nação inclui lapsos injustificáveis.

O autor explora também personagens marcantes de Ouro Preto, como o memorável Bené da Flauta, que animava os primeiros festivais de inverno na cidade.  Ele tinha a alma de poeta e encantava com suas composições e músicas, para as quais utilizava instrumentos feitos por ele mesmo a partir de bambus e pedaços de cana.   Ou ainda, quando fala sobre Tia Olímpia com seu chapéu enfeitado de papelotes, com o rosto marcado de batom e ruge, a contar sobre seus impossíveis flertes com D. Pedro I.  

O mal do ouro:  o ouro.  A cegueira que ele produz.  Quem vê ouro não é capaz de enxergar outra coisa.  Ignora até que no dia seguinte precisará estar vivo para usufruir daquela riqueza.

O enredo traça um panorâmico crítico diante do interesse e ambições que cercam as riquezas da cidade.  Será que diante de tamanha catástrofe, Ouro Preto continuaria a ser a mesma de antes?  Com tantas mudanças poderia ainda permanecer com seus encantos?

O certo é que ninguém escolhe nada, somos todos levados.

O livro possui páginas amareladas e traz, ao longo de suas 265 páginas o estilo inconfundível de  Rui Mourão.  O autor mistura a narração em 3ª pessoa com capítulos que ganham a voz das próprias personagens, funcionando de forma harmônica no enredo.  Somos presenteados com ilustrações que destacam cenários de Ouro Preto, nas talentosas linhas de Luiz Cláudio de Castro.  O livro é muito mais que uma homenagem à cidade mineira, o autor nos apresenta de forma dinâmica a luta pela construção do equilíbrio entre as memórias de Ouro Preto e o novo tempo que vive a impor sua presença. 

http://oasyscultural.com.br/
Boca de Chafariz
Autor :  Rui Mourão
Editora UFMG
Páginas :  265
5ª Edição (2010)
ISBN 978-85-7041-866-1
Brochura 14x20cm



Onde Comprar:



http://www.ciadoslivros.com.br/livro-a-espia/boca-de-chafariz-566644-p141315


https://www.saraiva.com.br/boca-de-chafariz-5-ed-3362827.html?sku=3362827&force_redirect=1&pac_id=25371&utm_source=buscape&utm_medium=comparador&utm_campaign=cpc_0301-3362827_25371

Informações sobre o Autor:
https://www.facebook.com/Rui-Mour%C3%A3o-203654336679871/
 
Rui Mourão lecionou Literatura Brasileira na Universidade de Brasília e nas Universidades de Tulane, Houston e Stanford, nos Estados Unidos. Participou dos movimentos das revistas literárias Vocação e Tendência, tendo sido diretor desta última. É membro da Academia Mineira de Letras. Foi editor do Suplemento Literário do Minas Gerais, chefe do Departamento Cultural da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, diretor-executivo da Fundação de Arte de Ouro Preto, coordenador do Grupo de Museus e Casas Históricas da Fundação Pró-Memória em Minas Gerais e coordenador do Programa Nacional de Museus, as duas últimas funções acumuladas com a de diretor do Museu da Inconfidência, cargo que ocupa desde 1974.

Prêmios:

Prêmio Cidade de Belo Horizonte em 1956 e 1971; Troféu Francisco Igreja, da União Brasileira dos Escritores do Rio de Janeiro; Reconhecimento Especial do Pégaso, na Colômbia, em 1994; Ficção 2002, da Academia Brasileira de Letras; Centenário de Maria Helena Cardoso, da Academia Mineira de Letras, em 2002; Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, pelo conjunto de obras, em 2013; Medalha da Ordem do Mérito Cultural, em 2015.

Romances Publicados:

As raízes, Curral dos crucificados, Cidade Calabouço, Jardim pagão, Monólogo do escorpião, Servidão em família, Boca de chafariz, Invasões no carrossel, Quando os demônios descem o morro, Mergulho na região do espanto.  
O autor publicou também diversos ensaios. 

17 comentários:

  1. Shoooow! Até eu quero muito ler o livro do Rui!

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  2. muito legal seu post, ler livros sempre é uma ótima escolha.
    voltarei mais vezes.

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  3. Gostei bastante do post, a maneira como está tão explicito e explicativo, não sou grande fã de leitura, mas sempre que consigo leio, não conheço o autor Rui, mas fiquei curiosa para conhecer sua obra ;)

    beijinhoooos

    beijinhoooos

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  4. ola tudo bem ? fiquei encantada já com o primeiro volume da trilogia em especial por se passar em ouro preto MG,por se tratar de um patrimônio cultural. cidade onde desejo muito conhecer. Já tinha ouvido falar no autor e obra , quero mergulhar junto na historia . Bjssss

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  5. Adoro figuras históricas e quando vi até Tiradentes o coração já palpitou. Ainda mais quando se trata de Ouro Preto, que delícia! O livro parece ser maravilhoso, Rui Mourão nos deu uma belíssima e grandiosa obra, sem sombra de dúvidas

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  6. Olá, Evandro!
    Certamente essa leitura será uma viagem histórica pela cidade de Ouro Preto!! O fato de saber que Tiradentes e Aleijadinho são citados na obra me deixou muito interessada!!
    Abraço!

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  7. Adoro este livro. imagina Ouro Preto sendo destruída por um avassalador temporal e onde figuras que se relacionam com sua história voltam para salvá-la. Misturam-se surrealisticamente Aleijadinho e Rodrigo Mello Franco, Tiradentes e Aloísio Magalhães, os inconfidentes, Guignard, Tarquínio de Oliveira, Edson Mota, Jair Inácio e muitas outras personagens vivas e mortas numa miscelânia da história.
    Ótimo post

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  8. Não sou uma leitora muito frequente, tinha que ler mais. Sempre que dá leio um pouquinho. Muito bem explicado seu post. E por ouro preto ser minha cidade preferida já gostei da historia.😚

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  9. Olá, tudo bem? Nossa, uma fascinante obra com rico conteúdo histórico sobre Ouro Preto, a destruição do lugar no temporal e o esforço de Ouro Preto para se reerguer. O detalhismo do autor também foi muito importante, o destaque a figuras históricas como Aleijadinho e Tiradentes. As fases de Ouro Preto desde quando se chamava Vila Rica, Boca de Chafariz é uma ferramenta de conhecimento muito importante para quem aprecia a história brasileira.

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  10. Eu adoro livros de autores brasileiros, principalmente quando falam de de cidades brasileiras assim. Quando a gente conhece a cidade parece que está dentro da história.


    bj,
    Dani do blog Sabe o que é?
    http://sabeoque.blogspot.com

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  11. Que fantástico esse livro falando sobre fatos históricos e a cidade de Ouro Preto...obrigada pela indicação abraços

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  12. Olá,
    Não conhecia a obra e nem o autor, mas meus olhinhos brilharam ao saber que ele é ambientado na cidade de Ouro Preto! Sou doida para conhece-la e acredito que a leitura da obra me daria um panorama bem interessante sobre a cidade.

    LEITURA DESCONTROLADA

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  13. Olá!

    Nunca tinha visto sobre esse livro ou autor, mas adoro quando os livros são ambientados no Brasil e fiquei muito curiosa sobre.

    Beijos!

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  14. Oi, tudo bem? Que dica mais interessante. Gosto muito de conhecer livros assim diferentes e que saem um pouco dos enredos que estamos acostumados. O que mais me chamou atenção foi o fato de falar em Ouro Preto, é uma das cidades histórias que mais admiro. A cidade com suas igrejas do tempo colonial, as ruas com pedras, é um misto de beleza e história. Ótima resenha. Um abraço, Érika *-*

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  15. Olá tudo bem?
    Adoro quando leio resenhas indicando autores nacionais !!
    fiquei curiosa para ler.
    dica anotadissima
    bjs !!!!

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  16. Que maravilha que deve ser essa leitura, tão ricos em detalhes sobre Ouro Preto, seu post está simplesmente ótimo, parabéns pela ótima resenha. Beijos.

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  17. Dever ser um livro muito bom. Gosto de histórias que resgatam a vida e costumes de uma região e ambientada em outra época. Quando os autores nacionais são bons, sai de baixo, que coisa boa vem por aí.

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