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Resenha: O triste fim de Policarpo Quaresma (Editora Vozes)

em quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Mais um clássico da literatura nacional para minha coleção Vozes de BolsoO triste fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto foi lançado pela Editora Vozes em 2016.  Os livros são lindos e atualizados na Nova Gramática da Língua Portuguesa.  Cada exemplar conta com um texto explicativo no final da edição, feito por Leandro Garcia Rodrigues, doutor e pós-doutor  em letras (PUC-Rio) e crítico literário.   Segundo Leandro, a estória foi escrita, inicialmente, em forma de folhetim no Jornal do Commercio, entre agosto e outubro de 1911.  Em 1915 foi publicado em livro pela Typografia Revista dos Tribunais.

Errava quem quisesse encontrar nele qualquer regionalismo:  
Quaresma era antes de tudo brasileiro.
 
Policarpo, com seus óculos sem hastes presos na ponta do nariz, sempre se manteve isolado, embora fosse devidamente respeitado pela vizinhança. Vivia com sua irmã Adelaide, cercado de livros, o que causava certa estranheza aos olhos de muitos, já que não era nenhum doutor.  Ele era um homem de poucos amigos, mas inimigos também não tinha.  O que realmente intrigou toda rua foi a constante companhia do jovem seresteiro Ricardo Coração dos Outros, o famoso trovador dos suburbanos.  Não ficava bem para um homem das posses de Quaresma se misturar com aquele tipo de gente.

Como é fácil na vida tudo ruir!  Aquele homem pautado, regrado, honesto, com emprego seguro, tinha uma aparência inabalável; entretanto bastou um grãozinho de sandice...

Policarpo era um grande patriota, mas o amor pela pátria o dominou por inteiro quando chegou aos trinta anos  Ele trabalhava no Arsenal de Guerra e era conhecido como Major, embora ainda não o fosse.  Sua pontualidade era quase um exagero.  Ele estudava incansavelmente a cultura brasileira, o que,  no começo, era uma pequena mania ou simples extravagância, foi tomando grandes proporções a ponto do major redigir um requerimento à Câmara pedindo que a língua Tupi Guarani fosse nomeada a língua oficial do Brasil.  Se não bastasse isso para ser tachado de louco, Quaresma, por distração acabou transcrevendo um documento oficial na língua indígena causando uma grande confusão no quartel.
http://www.universovozes.com.br
O riso é contagioso.  O secretário, no meio da leitura, ria-se, discretamente; pelo fim, já ria-se o presidente,ria-se o oficial da ata, ria-se o continuo - toda Mesa e aquela população que a cerca riram-se da petição, largamente, querendo sempre conter o riso, havendo em alguns tão fraca alegria que as lágrimas vieram.

O livro se divide em 3 partes, que representam momentos de transição do personagem e cada uma compõe-se de 5 capítulos.     Enquanto no primeiro momento o autor nos mostra o esforço de Quaresma em renegar o estrangeirismo e enaltecer as riquezas do nosso país, acabando trancado em um manicômio; no segundo mostra o isolamento de Policarpo em um sítio onde resolve explorar as terras férteis do nosso país e restabelecer a saúde.  Mesmo tentando manter-se afastado,  Quaresma se esbarra com as manobras dos políticos locais, com as desigualdades sociais e tantas terras vazias sem produção.  No terceiro momento, ele resolve propor diretamente ao presidente-marechal Floriano, mudanças nas leis agrárias e benefícios ao povo que por direito merecia.   Mais uma vez o patriotismo quase cego, coloca Quaresma em apuros.  Verdadeiramente designado Major, ele enfrenta riscos em nome de suas crenças,   defendendo o governo que mais uma vez ignorava suas ideias, na chamada Revolta da Armada, da República Velha.

O que mais a impressionou no passeio foi a miséria geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, abatido da gente pobre.  educada na cidade, ela tinha dos roceiros ideia de que eram felizes, saudáveis e alegres.

Um texto que fala das desigualdades do nosso Brasil, envolvendo política e poder, segregando as pessoas em classes, onde os interesses pessoais estão acima dos interesses da Pátria.  O enredo também explora as vidas dos personagens secundários, que contribuem para deixar a estória mais dinâmica e não cansar o leitor.  Um exemplo é o amigo Ricardo Coração dos Outros às voltas com um concorrente que andava tirando seu sono, a vizinha Ismênia que se entrega à loucura depois de esperar incansavelmente pelo noivo que a abandonou e a afilhada Olga que tem grande admiração pelo padrinho. 

Os governos, com os seus inevitáveis processos de violência e hipocrisias, ficam alheados da simpatia dos que acreditam nele; e demais, esquecidos de sua vital impotência e inutilidade, levam a prometer o que não podem fazer, de forma a criar desesperados, que pedem sempre mudanças e mudanças.

A obra foi adaptada para o cinema  por Alcione Araújo e dirigida por Paulo Thiago em 1998 e teve como título Policarpo Quaresma, herói do Brasil.

Não é só a morte que nivela; a loucura, o crime e a moléstia passam também a sua rasoura pelas distinções que inventamos.



Um país como este, tão rico, talvez o mais rico do mundo... Por quê?

O bonde partiu. A lua povoava os espaços, dava fisionomia às coisas, fazia nascer sonhos em nossa alma, enchia a vida, enfim, com a sua luz emprestada...

Onde Comprar:

http://www.universovozes.com.br/livrariavozes/web/view/DetalheProdutoCommerce.aspx?ProdId=8532651631

O triste fim de Policarpo Quaresma
Lima Barreto
Editora Vozes
Coleção Vozes de Bolso
Código ISBN: 9788532651631
Formato: 11,0x18,0 cm
Acabamento: Brochura
Peso: 0,218 kg
Número páginas: 312
1ª edição
Ano de lançamento: 2016
 

50 comentários:

  1. Oi, Evandro. Tudo bem?
    Nossa, muito boa a sua resenha.Eu simplesmente adorei relembrar de um dos livros que tive a oportunidade de ler lá no ensino médio, quando estava estudando o pré-modernismo na aula de literatura. Como você disse, é um livro traz à tona vários assuntos sobre o Brasil, como a desigualdade. Eu lembro que o meu professor passou a adaptação para assistirmos também, lembro que fiz de tudo para terminar a leitura antes de ver o filme e consegui, poucos minutos da sessão de filme, li a última página do livro. Adorei relembrar desse clássico. Gostaria de aproveitar para desejar feliz ano novo para você, Evandro e que 2017 seja um ano de muito sucessos para você e para o seu blog.
    Um forte abraço!

    meuniversolb.wixsite.com/meuniverso

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    1. Que bom que gostou, Leandro. Eu não cheguei a ler clássicos na época da escola, mas é sempre bom conhecer esses livros que ficaram marcados na história.

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  2. Bela resenha!
    http://diarioleitorblog.blogspot.com/

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  3. Olá, Evandra. Tudo bem?
    Acho muito bacana como você apresenta a literatura brasileira, atribuindo o seu real valor com ótimas resenhas como essa. Parabéns!

    Abraço,
    Preguiça Literária

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    1. Oie Lorena. Eh Evandro heheh Sempre procuro ter a literatura nacional presente por aqui.

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  4. Olá
    Um clássico é sempre um clássico e é claro que adorei poder conferir suas impressões por aqui. Já tive a oportunidade de fazer essa leitura, mas faz muito tempo, por isso ler sua postagem foi ótimo, especialmente para relembrar e ter vontade de reler..
    Beijos, Fer
    www.segredosemlivros.com

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    1. Que bom que pude proporcionar isso a você. Temos tantos títulos sedutores na atualidade, mas às vezes é bom ler um velho clássico.

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  5. Ola Evandro lendo sua resenha, me dei conta que ano passado não li um clássico sequer, o livro em questão não conhecia fiquei curiosa para ler, corrigindo meu lapso de clássico como esse. Dica anotada para ler e assistir o filme.

    Joyce
    Livros Encantos

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    1. Que bom que gostou, Joyce. Eu não me programo muito nas leituras, vou deixando acontecer. rsrs

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  6. Oi, Evandro!
    Pela suas impressões, pude perceber que a temática do livro continua tão atual quanto em 1911.
    Preciso voltar a ler os clássicos.
    Não sei se retornaria por esse, mas ainda assim é uma ótima dica. Obrigada!
    Beijão!
    http://www.lagarota.com.br/
    http://www.asmeninasqueleemlivros.com/

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    1. É verdade o que você disse, o legal dos clássicos é que percebemos que os costumes mudam, a moda muda, a forma de falar, mas as situações parecem que se repetem. Obrigado pela visita.

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  7. Oie! Tudo bem? Simplesmente não consigo gostar dos clássicos, não me fecho com suas narrativas, sla é um bloqueio total, mas admiro quem consegue e gosta! Esse livro era/é uma das leituras obrigatórias da minha escola, pelo menos durante os 3 anos de ensino médio a professora pedia para alguém ler ele!
    Bjss

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    1. Oie, Nay. Sei como é, para alguns não rola mesmo. Eu também já tive dificuldades até me esbarrar com um que a estória me envolvesse. Obrigado pela visita.

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  8. Li este livro no ensino médio e adorei tanto, que li mais 3 vezes depois. Machado de Assis foi um gênio e ler sua resenha me despertou uma nostalgia maravilhosa.
    Meu Amor Pelos Livros
    Beijos

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    1. Oie, Ivi. Nusss 3 vezes? Eu tinha lido uma vez, e acabei relendo agora. As pessoas tem muito medo dos clássicos, mas muitas vezes carregam um bom ótimo enredo. Sem contar que as edições atuais, são atualizadas nas novas regras e contém novas explicativas. Obrigado pela visita.

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  9. Olá,

    Sempre quis fazer essa leitura, principalmente por ser um clássico e também pelos comentários positivos que venho lendo da obra. Foi muito bom ler suas impressões, imagino que as edições atuais sejam mais confortáveis para ler, por isso vou tentar em breve comprar o meu exemplar.

    Abraços,
    Cá Entre Nós

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    1. Sim, são muito mais confortáveis, com certeza. Já li nas antigas regras e não tem comparação com os atualizados.

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  10. Oie, parece um ótimo livro, principalmente por abordar uestões do brasil e trazer até contato com um presidente. Sempre ouço falar mas nunca parei para ler. Obrigada pela dica.

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    1. Oi, Tamara, eu que agradeço pela sua visita e pelo comentário. Obrigado.

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  11. Oi Evandra, muito boa sua resenha. Um prazer poder relembrar um livro que alguns professores comentaram no colégio, não foi uma leitura obrigatória, mas fui aprensetada algumas vezes a essa história. Da até vontade de adquirir para os meus irmãos após essa revisão. Bjs

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    1. heh eh Evandro, Helyssa. Obrigado pelo comentário, que bom que a resenha pode te trazer boas lembranças.

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    2. Me desculpe Evandro, deve ter sido o corretor e eu não vi. Mas sim, realmente não tem como não lembrar a época de colégio.

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  12. Oiee
    Confesso que esses clássicos eu só lia por obrigação na escola rs
    Infelizmente, acho que hoje, mais velha e mais experiente, eu aproveitaria muito mais dessas leituras.
    Acho que as crianças e adolescentes têm dificuldade em aprender o hábito de ler, por serem obrigados a ler histórias que não interessam a eles.
    Por que não começar pelo caminho inverso e deixar os clássicos pra quando estiverem mais preparados?
    Esse enredo sobre desigualdades, política e poder, faz parecer um livro extremamente atual, apesar de ser um clássico da literatura nacional.
    Enfim, a história de Policarpo Quaresma é muito interessante, e me deu vontade de ler novamente!
    Um beijo!!

    www.asmeninasqueleemlivros.com

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    1. Concordo plenamente com você, Amanda. Hoje gosto de ler talvez porque, quando criança, nenhum professor me obrigou a ler nenhum clássico, só estórias infanto-juvenis. Clássicos experimentei bem depois por iniciativa própria quando já estava preparado.

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  13. Gente que vergonha que sinto em contar que ainda não li esse livro... De certa forma gostaria de conferir, mas não me sinto totalmente madura para esse tipo de leitura, não sei explicar, porem sei que chegará o momento que irei ler e gostar da leitura. Só tenho que aguardar a hora certa!

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    1. Tudo tem que ter a hora certa, ler só por obrigação não vale mesmo à pena. A leitura tem que ser prazerosa. Obrigado pela visita, Amanda.

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  14. Olá!
    Esse livro de fato é um clássico e foi uma das leituras que fiz em minha faculdade. Adorei a escrita de Lima Barreto, para um clássico ele é super fluído e nos deixar imersos na história.
    Beijos.

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  15. Oi, Evandro!
    O título desse livro sempre me chamou a atenção, mas nunca parei pra ver do que realmente se tratava.
    Esses livros que falam de desigualdades no Brasil é sempre uma leitura bem-vinda, e interessante. Também gostei de saber que os personagens secundários ganham importância na história.
    Quaresma parecer ser um protagonista e tanto para acompanhar.
    Parabéns pela resenha!

    Beijos!
    Eli - Leitura Entre Amigas
    http://www.leituraentreamigas.com.br/

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  16. Eu sou apaixonado por clássicos, principalmente se vem em novas edições. A Editora Vozes vem fazendo um trabalho lindo por trazer este livro totalmente de acordo com a nova gramática e um texto especial. Adorei sua resenha, e já vou pedir este livro a editora.

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    1. Acho que fica mais fácil a gente se envolver com os clássicos dentro da nova ortografia.

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  17. Oi, Evandro

    Acho muito legal o fato de você falar tanto sobre os clássicos da nossa literatura. Esse eu não li ainda, mas é curioso ver que mesmo sendo um livro tão antigo, ele consegue ser um livro atual, né?
    Imagine Policarpo nos dias de hoje, coitado?! hahahaha

    Beijos

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  18. Olá!
    Fui uma das várias crianças obrigadas a lerem este livro no ensino médio e, como de costume, na época não funcionou comigo. Está mais do que na hora de dar mais uma chance e ver como minhas impressões mudaram, adorei conferir mais detalhes do livro, ótima resenha!
    Beijos,

    Luana

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    1. Ainda bem que não fui uma criança torturadas com os clássicos heheh Imagino como deve ter sido terrível.

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  19. Olá!
    Tive que ler este livro na minha época de escola. Mas isso ja faz muito tempo. Não me lembro do que achei do livro na época, mas irei reler para ter novas impressões.

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  20. Olá! Pelo jeito o livro é bem rico, pois fala de desigualdades do nosso Brasil, envolvendo política e poder de classes. Que bom que explora também as vidas dos personagens secundários. Não conhecia o livro nem a adaptação para o cinema. Adorei conhecer e saber um pouco da sua opinião a respeito. Beijos'

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    1. Obrigado, Dayane, que bom que gostou. Você é sempre bem vinda por aqui.

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  21. Que lindo ver um dos grandes clássicos de nossa literatura aqui!!!! Eu li esse livro ainda no ensino médio, na época que ler era uma obrigação e lembro que gostei. Voltei para ler anos depois e gostei ainda mais. Espero ver cada vez mais clássicos por aqui. Beijos

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    1. Sempre que tenho a oportunidade eles aparecem sim. É bom porque conhecemos as diferenças das épocas em que vivemos e as transformações sofridas por nosso Brasil.

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  22. Olá, tudo bom?
    Eu sou simplesmente apaixonada por clássicos da literatura nacional e essa é uma das obras que ainda não tive o prazer de ler. Adorei saber que trata da desigualdade de nosso país em meio a questionamentos sobre política e poder, em que os governantes e pessoas importantes prezam seus interesses pessoais acima dos interesses da pátria. Espero poder ler este livro em breve. Adorei a resenha! Parabéns, super bem escrita mesmo!

    Beijos!
    @PollyanaCampos
    Entre Livros e Personagens

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    1. Obrigao, Pollyanna, que bom que gostou. Sempre é bem vinda por aqui.

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  23. Oie
    esse é aquele tipo de livro que ouço falar e me preparo para ler em outra época, parece ser uma bela leitura afinal o sucesso que fez hahaha muito legal sua resenha

    beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  24. Esse livro merece ser um clássico. Faz algum tempo que fiz essa leitura, estava no início do ensino médio e me lembro de viver todas as emoções com o personagem pela pátria. Adorei relembrar essa excelente leitura.
    Bjim!
    Tammy

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  25. Apesar de ser uma leitura canônica eu confesso que não gostei. A tenacidade do patriotismo da personagem me irritou um pouco, talvez pela época mesmo em que foi escrito. Outro ponto é a linguagem. Um pouco arcaica. Mesmo assim é uma leitura válida para quem n conhece.

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