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Resenha: O dia seguinte - Intrínseca

em domingo, 11 de setembro de 2016

O Dia Seguinte de Rhidian Brook da Editora Intrínseca, conta a estória de duas famílias tentando juntar os pedaços após o fim 2ª guerra mundial, tendo como cenário uma Alemanha completamente destruída.  

O que poderia acontecer com pessoas em lados opostos desta guerra convivendo dentro de uma mesma casa?  E se essas famílias estivessem tão destruídas quanto a cidade, depositando no outro a culpa por todas as suas perdas?

Uma cidade esmagada se estendia até onde a vista alcançava, o entulho chegava à altura do primeiro andar de qualquer prédio ainda de pé. Difícil acreditar que um dia aquele fora um lugar onde as pessoas liam jornais, faziam bolos e pensavam em quais quadros pendurar nas paredes das salas de visita.

O conflito havia acabado a mais de um ano.  Na cidade de Hamburgo, uma das mais afetadas pelos sucessivos ataques, Lewis Morgan, um oficial de carreira inglês, participa da reconstrução do país e do processo de desnazificação.   Era preciso esquecer os anos cinzentos da guerra.

Depois de passar anos afastado da esposa e enfrentar a perda trágica de Michael, seu filho primogênito, Lewis tem agora a difícil missão de reestruturar sua família, trazendo-os para a Alemanha.

É assim que conhecemos Rachael e seu filho caçula, Edmund.  Ela havia se tornado uma mulher deprimida, revoltada e cheia de ódio pelos alemães, culpando-os pela morte de Michael, que faleceu aos 14 anos, vítima de um descarte de bomba pelos inimigos.  Tudo isso criou uma grande lacuna em seu casamento.  Mesmo que muitos outros conhecidos também tivessem suas perdas em grandes escalas, a dor de Rachael parecia sempre maior.  No fundo culpava o marido pela ausência no pior dia de sua vida. 

O fantasma de um imenso barulho pairava sobre a cena. Algo fora deste mundo desfizera aquele lugar e deixara um quebra-cabeça a partir do qual seria impossível reconstruir o antigo quadro. Não havia como montá-lo novamente, e não haveria como voltar ao velho quadro.

Ela preparou Edmund para evitar qualquer contato de proximidade com os alemães, nem mesmo apertar as mãos era aconselhável. Era assim que orientava o livreto que toda família inglesa recebia quando estava indo para a Alemanha.
  
A casa requisitada para receber os ingleses era uma imponente mansão às margens do rio Elba.   Lá morava o arquiteto Lubert com a filha Frieda de 15 anos e os antigos empregados.  A esposa havia  desaparecido nos bombardeios da tempestade de fogo.   Frieda, distante e revoltada com a morte da mãe, acaba se envolvendo com Albert, um jovem da resistência, o que poderia causar graves problemas.

Lewis esperava alguma hostilidade, diante da invasão que estava prestes a fazer, mas a submissão e empenho de Lubert nas boas vindas, acabou tornando impossível aquela expulsão, contrariando as regras.  A casa era mais do que eles precisavam e ele acabou deixando que a família ocupasse os cômodos de cima, no lugar de mandá-los para um alojamento.

— Não consigo imaginar como deve ser viver sob o mesmo teto — disse a sra. Thompson — Como consegue? — perguntou, do modo como poderia perguntar sobre um paciente com uma doença terminal. — Eu acharia muito perturbador.

Totalmente contrária à decisão de Lewis em dividir a casa com uma família alemã, Rachael tem que aprender a lidar com o vazio interior que aumentava cada vez mais, independente da presença do marido.  A casa que, em cada detalhe, estava repleta de vestígios da antiga dona e a desconfiança de que Lubert fosse ligado às ideias de Hitler, leva Rachael a atravessar o limite antes imposto.  Esse é o início de um jogo perigoso, cujo resultado afetará a todos de alguma forma.   Um terreno arriscado que a guiará além de suas convicções.  

Linhas.  Limites.  Fronteiras.  Ela    havia  cruzado  algumas,  mas  aquelas  três  palavras pareciam o maior salto até então.


É um livro intenso, forte e chocante ao mostrar que a destruição da guerra não foi só física. A inspiração veio das lembranças do avô.  A narração é feita em 3ª pessoa e todos os núcleos e personagens, mesmo os secundários são importantes para que possamos sentir a atmosfera e entender o cenário onde a estória se passa.  O contato de Edmund com Frieda e com os garotos 'selvagens', órfãos da guerra é outro ponto forte no enredo.    O autor Rhidian Brook nos faz olhar além da nacionalidade, enxergando o ser humano que existe, independente do lugar do mundo que tenha nascido.  Dor, ódio, vingança, destruição, amor, paixão, desejo, traições, tudo isso desenvolvido de forma brilhante em suas páginas. O dia seguinte, com todos os seus dramas, consegue atrair o leitor e compartilhar com a gente as dores de todos os personagens. 

Rachael contou até sessenta, como uma menina brincando de esconde-esconde, fechando os olhos  e  escutando  as  tábuas  rangendo.  Esperou  que  as  vozes    da  razão,  da  noção,  da consciência — lhe dissessem para não ir até ele. Todavia, nenhuma voz emergiu; tudo o que conseguia ouvir era o pulsar de seu desejo. Agora seria necessário algo excepcional para detê-la    interferência  cósmica,  um  terremoto,  algo  tão  singular  quanto  um  grande  gato cruzando o gramado.


Uma ótima notícia é que a Fox Searchlight comprou os direitos de adaptação do romance O dia Seguinte de Rhidian Brook, que será produzido por Ridley Scott e tem estreia prevista para 2017.  A adaptação foi feita por Anna Waterhouse e Joe Shrapnel.   Entre os atores cotados para dar vida aos personagens estão Alexander Skarsgard - Lewis (A lenda de Tarzan), Keira Knightley - Rachael (Piratas do Caribe) e Jason Clarke - Lubert (O Exterminador do Futuro - Gênesis).  A princípio a direção ficará com James Kent (Juventudes Roubadas).  Esperando ansioso por esse filme que promete muita emoção no ano que vem.

Não. Não disse. — Na verdade, ele estava apenas começando. — Você está certa. Não sabemos nada um sobre o outro. Você não sabe nada sobre mim. Meu passado. Meu presente. Meu futuro. Sim, é verdade. Eu tenho esperanças de futuro. Sim, mesmo eu: um alemão!


Lubert ficou pensando se seria a nudez. O quadro, talvez, estivesse à beira do erótico, mas era contido e delicado demais para ser ofensivo. De repente foi tomado por uma necessidade incontrolável de tornar aquele momento o mais difícil possível para Rachael, fazê-la corar e contorcer-se, colocá-la em seu lugar.

Editora :  Intrínseca
Edição 1 (2014)
Autor :  Rhidian Brook
Tradução :  Alexandre Martins
Formato :  Brochura
ISBN 978-85-8057-592-7
Largura :  16cm
Altura : 23cm
Páginas : 272

23 comentários:

  1. Oi, Evandro. Tudo bem?
    Nossa, o livro deve ser muito bom. Fiquei muito curioso para conhecer a história. E fiquei ainda mais curioso ao saber que o livro vai ser adaptado para o cinema. Adorei a resenha, muito boa.
    Abraço!

    meuniversolb.wixsite.com/meuniverso

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    1. Oie, Leandro. Realmente estou apaixonado por esse livro e espero ansioso pelo filme.

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  2. Olá Evandro! Adoro livros com essa temática de guerra. Acho que eles nos trazem várias lições... adorei a resenha e fiquei curiosa para ler! Ah, te indicamos em uma Tag no blog, espero que goste!

    Abraço, Roberta!
    http://eventualobradeficcao.blogspot.com.br/2016/09/tag-de-tudo-um-pouco.html

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    1. Olá, Roberta. Eu tb adoro a temática. Obrigado pela indicação na tag, assim que possível respondo.

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  3. Esse livro deve ser maravilhoso, que enredo surpreendente.
    Adorei o cenário em que ele é ambientado e o contexto histórico, deve ser incrível.
    Art of life and books

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    1. É um livro muito bom , leia se tiver oportunidade. Vc vai gostar.

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  4. Fiquei totalmente atraída pelo livro lendo sua resenha. A história parece ser emocionante. Gostei de saber que vai ter adaptação p o cinema.
    Abraços!

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    1. É uma estória incrível e forte, com personagens muito bem construídos. Obrigado, Cidália.

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  5. Olá Evandro
    O livro parece ser triste e ao mesmo tempo bem realista do que todos pensam dos alemães até os dias de hoje. Bem no fundo o que fizeram ficou enraizado.
    Adorei a premissa do livro.
    Excelente resenha
    Bjs

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  6. Olá Evandro
    O livro parece ser triste e ao mesmo tempo bem realista do que todos pensam dos alemães até os dias de hoje. Bem no fundo o que fizeram ficou enraizado.
    Adorei a premissa do livro.
    Excelente resenha
    Bjs

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  7. Adoro temas sobre a Segunda Guerra Mundial, realmente me tocam muito. Foi um período tão marcante da história, com tanta desumanidade que até hoje fico chocada ao ler ou assistir qualquer coisa sobre este tema. 😘 @blogbyvivicoitinho

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    1. É um enredo que mexe com todos os nossos conceitos. Recomendo a todos.

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  8. Que bacana, fiquei mega curiosa pra ler esse livro!

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  9. O livro parace ser bem legal bastante interessante. E eu amo essa editora <3

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    1. A intrínseca realmente tem livros ótimos. Obrigado pela visita.

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  10. Pareceu-me um livro interessante. Não sou muito fã de romances históricos e este pareceu-me um deles mas algo me diz que vou queimar a lingua se algum dia o ler.
    Se for mesmo sair para cinema então ainda melhor. Queimo a lingua duas vezes :)

    Abraço

    http://umaquestaodeespaco.blogspot.pt/

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  11. Sou apaixonada por histórias que remetem ao passado!! Louca para chegar logo 2017 para ver nas telonas!!! Abraços Sandra Paim @casanovaorganizada

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    1. Eu também estou muito ansioso esperando, porque já sou apaixonado pelos personagens e suas estórias.

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  12. Ual, amei a resenha! Com certeza vou procurar este livro por aqui, e também estou aguardando ansiosamente pelo filme. Beijos :*
    By Amanda Santos | Facebook | Instagram

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